Assim caminha a humanidade

Entre os dias 06 e 10 de junho de 2022 ocorreu a nona edição da Cúpula das Américas. O tema desta edição foi: “Construindo um futuro sustentável, resiliente e equitativo.” Foram estabelecidos pelos EUA (que foi o anfitrião do evento) cinco pilares para serem discutidos: (1) Saúde e Resiliência nas Américas; (2) Mudança climática e sustentabilidade ambiental; (3) Aceleração da Transição para Energia Limpa; (4) Transformação Digital e (5) Governança Democrática. 

Frustrante e quase desnecessário dizer que os movimentos objetivos em direção à sustentabilidade ambiental continuam sendo muito incipientes. Uma das conclusões da cúpula foi que: A adaptação às mudanças climáticas também é um foco, convocando os líderes a implementar planos ou estratégias nacionais de adaptação, construir resiliência em todos os setores, estabelecer sistemas de monitoramento e avaliação, compartilhar informações e educar a próxima geração de formuladores de políticas de adaptação. Mas o que isso na prática significa? Como os Estados Unidos, como o país mais poluente da história, responde às mudanças climáticas? 

Os resultados da Rede da Pegada Global (Global Footprint Network) oferecem dados assustadores: Em 1961, precisávamos de 63% da Terra para atender às demandas humanas. Em 1975, já necessitávamos de 97% da Terra. Em 1980, exigíamos 100,6%, portanto, precisávamos de mais de uma Terra. Em 2005, atingimos a cifra de 145% da Terra. Quer dizer, precisávamos de quase uma Terra e meia para estar à altura do consumo geral da humanidade. A seguir este ritmo, no ano 2030 precisaremos de pelo menos três planetas Terra iguais a este que temos. Se, hipoteticamente, quiséssemos universalizar o nível de consumo que os Estados Unidos desfrutam, dizem os biólogos e os cosmólogos, que seriam necessários cinco planetas Terra para atender as demandas.  

Um dos anúncios do presidente americano na Cúpula das Américas foi um investimento de 300 milhões de dólares na américa latina para combater a insegurança alimentar. A relevância desse valor diminui bastante quando lemos que o congresso americano aprovou recentemente um pacote de 40 bilhões de dólares em armamentos para a Ucrânia na guerra contra a Rússia. 

O “american way of life” está errado e não é sustentável. Basta dizer que se o mundo todo utilizasse o mesmo modelo de vida os recursos do planeta já estariam completamente exauridos. Parece mais fácil doar dinheiro para combater a insegurança alimentar dos países pobres do que criar uma cultura de consumo responsável onde não se joga no lixo mais da metade de toda comida que se compra. Para se ter uma ideia, a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura estima um desperdício de 931 milhões de toneladas de alimento por ano – ou 2,5 milhões de toneladas por dia. Isso significa que treze navios cargueiros cheios de comida vão para o lixo todo dia.

Segundo Noam Chomsky, os 20% mais ricos do mundo consomem 82% das riquezas da Terra, enquanto 20% mais pobres têm que se contentar com apenas 1,6%. As 3 pessoas mais ricas do mundo possuem ativos superiores a toda a riqueza dos 48 países mais pobres, nos quais vivem 600 milhões de pessoas. As estratégias dos poderosos é salvar o sistema financeiro e não salvar a sociedade e garantir a preservação da vida no planeta. 

Aquilo que é demasiadamente injusto, não pode possuir, em si mesmo, nenhuma sustentabilidade. E um preço alto será pago em algum momento futuro. Enquanto isso se cumprem as palavras da música do Lulu Santos: “assim caminha a humanidade, com passos de formiga e sem vontade.”