Licença social para operar

A KPMG divulgou um relatório sobre o mercado de mineração, Global Mining Outlook 2022. O levantamento ouviu 301 executivos de mineração de todo o mundo e oferece uma perspectiva exclusiva sobre os riscos em evolução enfrentados pelas organizações globais de mineração.  A pesquisa foi realizada no primeiro bimestre de 2022 e incluiu líderes de 23 mercados-chave (Argentina, Austrália, Bolívia, Brasil, Canadá, Chile, China, Colômbia, Grécia, Hong Kong, China, Índia, Japão, Luxemburgo, México, Noruega, Panamá, Peru, Portugal, Rússia, África do Sul, Suécia, Reino Unido e Estados Unidos) e três setores de mineração principais (produtoras, prestadores de serviços e exploração e desenvolvimento). 

Todos os líderes destacaram a importância de se desenvolver uma agenda orientada aos fatores ESG como uma resposta objetiva às pressões e influências dos seus stakeholders. Importante destacar, que de maneira muito específica, na América Latina, a 2ª maior ameaça listada pelos executivos  foi a “Relações com a comunidade e licença social para operar.”

Não é muito difícil entender o receio, segundo estudos realizados pela The RepTrak Company para avaliar como a sociedade percebe o setor de mineração no contexto socioeconômico do Brasil, foi constatado, como não poderia deixar de ser, que após os acidentes de Mariana e Brumadinho a reputação do setor caiu drasticamente.  Nunca o “S” do ESG foi tão importante para o mercado de mineração. 

Diferentemente das  licenças operacionais e ambientais previstas por lei, a licença social não vem escrita em um papel, não tem multas ou cobrança do poder público e, por isso mesmo, muitas organizações no passado negligenciaram a “aquisição” dessa licença. Esse relatório da KPMG  indica uma importante mudança na relação estratégica entre a mineração e a comunidade ao redor e sabem que ignorar uma relação de valor pode gerar muitas ameaças ao negócio. 

Os indicadores ESG já não toleram uma relação opressora entre uma grande empresa e a comunidade do entorno. Empresas que  “assinam um cheque e passam uma borracha na consciência” não produzem sustentabilidade social porque nenhuma relação legítima, saudável que se perpetua ao longo prazo  se baseia exclusivamente em compensações financeiras. Licença Social é muito mais do que isso, é preciso mergulhar nas relações humanas. Além de entender, é necessário respeitar a cultura, valores e a história local. Promover trocas e compartilhar aspectos inerentes ao negócio como o uso dos recursos naturais, logística da operação, aquisição de mão de obra e programas sociais.  Não unilateralmente, mas construindo uma  parceria integral onde sempre o todo é melhor do que a soma das partes.